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AL, 36 anos

Mas só de ouvir essas palavras me dá vontade de comer mais.


Terror desde o infantário até aos 36 anos

1. Estava no infantário, no recreio a brincar à apanhada. O rapaz que ia atrás de mim apanhou-me e empurrou-me violentamente contra as grades. Eu tinha uma blusa de tachas e ele abriu-me a blusa. Fiquei sem reacção. Ele riu-se e começou a gritar que me viu as maminhas. Encolhi-me e comecei a chorar. As educadoras viram e riram-se e depois vieram acalmar-me. Ninguém lhe disse nada. Quando já estava mais calma voltei a ir brincar com outros meninos. A educadora gritou-me vais brincar com os rapazes e depois não chores.

Fiquei mais envergonhada com o que a educadora me disse do que o rapaz me fez. Eu cresci numa rua em que a maioria das crianças era rapazes e sempre brinquei com rapazes. Ali eu percebi que ao brincar com eles estava a dar-lhes permissão para alguma coisa que eu nem sabia o que era.

2. Estava na segunda classe, os meus pais tinham um café na aldeia onde o meu pai nasceu. No café havia uma máquina de jogos arcade onde eu passava horas a jogar. Um dos clientes habituais vem ver-me a jogar e começa a meter conversa enquanto me dá sapatadas leves no rabo. Chega um amigo dele, vai para o outro lado e começa a fazer a mesma coisa. Outra vez a paralisação de não conseguir reagir. Entretanto o meu pai entra e eu digo-lhe que vou a casa da minha prima na aldeia e saio do café a correr. Eles vêm atrás de mim e um deles agarra-me pelo braço. Só me lembro de berrar com quanta força tinha. O meu pai veio cá fora perguntar o que se estava a passar e eles disseram que estavam a brincar comigo à apanhada. Mandou-me para dentro do café e ficou a falar com eles. Nunca me perguntou nada e aqueles dois nunca mais falaram comigo.

3. Estava no quinto ano. Ia para casa com a minha irmã mais velha oito anos do que eu. Atravessamos o parque do castelo da nossa cidade. De trás de um arbusto, sai um homem na nossa direcção a masturbar-se e a gemer. Pensei que ele estava com algum problema porque como não sabia o que era, só vi um senhor com as calças em baixo a gemer e pensei que precisava de ajuda. Dirigi-me a ele e a minha irmã agarrou-me pelo braço e pediu-me para corrermos para casa, porque aquele homem era um homem mau. Não sei o que teria acontecido se a minha irmã não estivesse comigo. Nunca atravessei nem ousei ir ao castelo sozinha, ou a qualquer parque. Continuo com medo.

4. Durante o quinto e sexto ano, no caminho para casa, havia obras. Nenhuma das minhas amigas passava lá sozinha, tínhamos de ir dar uma volta enorme para ir para casa. Quando éramos muitas, arriscávamos e ouvíamos coisas nojentas que nem sabíamos bem o que queria dizer. Um dia uma das minhas amigas, gritou bem alto, “vai-te foder, paneleiro de merda”. Atiraram-nos com um baldo de cimento para cima, que por sorte não acertou em ninguém. Não passamos mais por ali.

5. Estava no sétimo ano. Ia a pé da minha casa para a escola. Numa rua grande sem qualquer tipo de habitação ou comércio, pára um carro à minha beira. Um homem insiste que conhece o meu pai e que me quer dar boleia. Calculo o tempo que me leva a chegar ao café mais próximo, enquanto lhe disse que sim que me lembrava dele, mas que não era preciso que o meu pai estava ali no café, como sempre e eu ia ter com ele. O meu pai nunca ia àquele café. Ele disse-me para entrar que me deixava à porta e assim ainda cumprimentava o meu pai. Eu disse-lhe que ele podia ir indo e já ia ter com eles. O coração saltava e ele seguia-me de carro devagarinho. Apareceu um carro atrás dele e ele olhou para mim e disse fica para a próxima, dá cumprimentos ao teu pai e foi embora. Fui a correr até à escola e nunca mais fiz o caminho sozinha.

6. Férias de verão durante a universidade. Fui com amigos passar uma semana à praia. Saímos à noite e fomos a uma discoteca. Levava uma t-shirt preta normal, não muito justa nem muito decotada e não levava sutiã. À saída da discoteca, um gajo põe-me a mão debaixo da t-shirt e apalpa-me o peito. Estava embriagada e reagi. Tirei a mão, empurrei-o e mandei-o foder. Ele agarra-me pelos braços e abana-me a dizer que nenhuma puta o manda foder e que eu estava a precisar de ser educada. Paralisei cheia de medo, não conseguia reagir, enquanto ele me arrastava. Os meus amigos chegaram e meteram-se e ele largou-me para ameaçar de porrada o meu amigo homem porque eu era uma puta e merecia. A namorada desse amigo, também bêbada, meteu-se e acalmou os ânimos sem perceber do que se estava a passar. Dispersaram. Os meus amigos que não viram o que ele me fez, riram-se e disseram-me que não causei boa impressão. Fui a chorar para casa e chorei a noite toda. Nunca consegui contar o que aconteceu, apesar da insistência deles, não pelo que aconteceu em si, mas pela vergonha de não ter conseguido reagir e ter ficado paralisada de medo.

7. Um ano após ter terminado a universidade, portanto 22 anos, fui operada à vesícula no hospital local. O cirurgião, quando me veio observar no pós-operatório, disse-me que eu tinha um corpo magnífico, mas que me tinha visto por dentro e lá dentro eu era bem marota e a minha alma estava cheia de pecados. Achei aquilo horrível, mas não prestei muita atenção, porque estava cheia de dores. Disse-me também que aproveitou para coser o buraco do meu piercing do umbigo, pôr piercings era nojento e que agora já não estava esburacada. Não dei importância. Primeira consulta pós operação. Fui com a minha irmã ao hospital e ela pergunta se eu queria que ela entrasse. Disse que não, para ela continuar a ler a revista que devia ser rápido. Entrei. Sentei-me. O cirurgião faz as perguntas que tem a fazer e senta-se à minha beira para me examinar, tendo uma maca mesmo ali ao nosso lado. Puxa um banco e diz para pôr ali o rabiosque e me deitar na cadeira. Disse que não, que preferia ir para a maca, que tinha medo de cair. Ele diz-me que assim era mais rápido e levanta-me a camisola. Outra vez o pânico de não conseguir reagir, ele começa a tocar-me na barriga e eu olho para o lado onde ele estava sentado e só o vejo a abrir e a fechar as pernas, muitas vezes rapidamente. Não entendo o que se está ali a passar, não estou a gostar, mas não consigo reagir. Ele não me tocou no peito nem nos genitais. Não sei quanto tempo fiquei ali a olhar para as pernas dele. Aquilo acabou, ele puxou-me a t-shirt para baixo e voltou a dizer que eu tinha um corpo lindo. Pergunta-me pelo meu namorado, disse que tinha. Pergunta se o meu namorado é ciumento e eu disse-lhe que sim. Pede o meu número de telefone e eu disse que não sabia de cor e que tinha-o deixado, o meu telefone, na bolsa com a minha irmã. Dá-me um cartão e escreve lá o telemóvel dele e diz-me para lhe ligar sempre que quiser, não importa a hora. Sempre que esteja triste ou que queira desabafar ou apenas ir beber um café. Pego no cartão e vou-me embora. Vou ter com a minha irmã e digo-lhe que acho que fui assediada. A minha irmã pergunta-me o que é que me fez e eu digo-lhe que não sei explicar. Ela diz-me para fazer queixa e eu digo-lhe que não sei de que faça queixa. Viemos embora e eu não fui mais às consultas de pós-operatório nem da especialidade, nas quais deveria ter sido seguida.

8. Aos 27 anos tive o meu primeiro namorado. Era analfabeta em relações e, portanto, demorei a perceber que ele era um abusador e que exercia sobre mim violência psicológica e sexual. Se lhe recusasse sexo, teríamos uma discussão. Vivia sempre em tensão. Um dia, fomos a um casamento, os dois elegantemente vestidos e passamos o dia a provocar-nos e a embebedar-nos. Chegamos ao hotel, muito bêbados e fizemos sexo. Preparámo-nos para dormir e eu já estava levemente mal disposta, tentei dormir. O meu ex-namorado estava com vontade de ter sexo outra vez, mas eu estava cheia de sono e prestes a cair para o lado. Acordei com a dor de ele fazer sexo anal comigo, empurrei-o e começamos os dois aos berros e ele a gritar que queria sexo e eu a dizer que não podíamos e ainda por cima, como já tinha havido penetração anal, não era seguro. Fui arrastada por um braço para a casa de banho, lavada, ele lavou-se e depois fez-me ajoelhar e fazer sexo oral. Finalmente fui dormir. Acordei no dia seguinte no meio do nada, num hotel com ele, e tive de fazer a viagem para casa com ele no carro. Fomos em silêncio. A meio da viagem, ele começou aos berros sobre o facto de eu nunca querer sexo. Berramos imenso na cara um do outro e só no fim, quando já estava a ficar sem voz, desatei a chorar compulsivamente e contei-lhe o que aconteceu. Ele não se lembrava, só se lembrava que tínhamos discutido. Chorou comigo e pediu-me desculpa e deixou-me em casa. Tenho vergonha de dizer que não acabei com ele aí, porque aí o que eu sentia é que ele me tinha pressionado a fazer sexo e não que me tinha violado. Apenas acabei com ele por um acaso. Foi me oferecida uma viagem ao Brasil, à qual ele não me pode acompanhar. Quando acordei da minha primeira noite lá e saí do hotel, percebi que o medo do meu ex-namorado fazer alguma coisa tinha desaparecido e só do outro lado do Atlântico percebi o quanto eu tinha medo dele. Acabei quando voltei. E só mais tarde, com a distância, percebi que tinha sido violada.

9. Adulta, 35 anos. Sento-me numa esplanada, numa sexta-feira, com a minha melhor amiga, super felizes. A meio do primeiro fino, liga-me um número que não conheço. Hesito em atender, mas atendi. Ouço um homem a dizer: ó puta, anda à janela que estou aqui a bater uma punheta. Fiquei sem reacção e digo-lhe que se enganou no número, ao que ele responde, não enganei nada, anda à janela. Pergunto-lhe com quem ele acha que está a falar e digo-lhe que não sou quem ele pensa e que a minha casa não tem janelas e ele diz: cala-te puta e anda à janela. Estou num carro preto. Coincidentemente, quando ia ter com a minha amiga, subia a minha rua e um carro preto parou no meio da rua e ninguém sal nem entrou. Lembrei-me disso e entrei em pânico. Saí a correr da esplanada com a minha amiga. Na praça entre a esplanada que eu estava e a minha casa havia a abertura de uma exposição de fotografia e estavam lá imensos homens que eu conhecia. Pensei em pedir ajuda, mas não tive coragem. A minha amiga ligou ao namorado para estarmos em chamada com alguém e lá fomos à procura do carro preto com um homem lá dentro. Não vimos ninguém. Durante este tempo, o homem não parou de ligar. Volto à esplanada e voltei a atender ao telefone. Disse-lhe outra vez que tinha ido procura-lo à rua e que ele não estava lá e que portanto para parar de me ligar que certamente não era comigo que queria falar. Disse-me que me ia lamber a cona até eu me mijar toda e depois que me enrabava até me rasgar. Pousei o telefone e pus o telefone em mute. De cada vez que ele ligava repetia a mesma coisa. Passou a noite a ligar-me e bloquei o número. No dia a seguir, fui a casa dos meus pais. O gajo voltou a ligar e eu, a pensar que podia ser alguém que pensasse que eu morava ali, peguei numa vassoura e fui ao parque de estacionamento atrás do carro preto. Não estava. Em três dias ligou-me mais de 150 vezes. E depois parou. Tentei por todos os meios perceber se havia forma de descobrir de quem era o número. Estava cheia de medo porque não sabia se ele sabia quem eu era. Falei com uma amiga que trabalhava na APAV. Disse-me que a única coisa a fazer era queixa na polícia. Eles iam descobrir de quem era o número e depois tínhamos de ir para tribunal. Mas eu apenas ia saber a identidade dele quando ele soubesse a minha, morada inclusive. Disse-me que precisava arranjar um advogado por para casos assim, o estado não providenciaria. E que depois de tudo isto, a única coisa que podia acontecer era ele pagar-me uma indemnização. Não fiz nada. Contei à minha chefe e ela ofereceu-me o advogado da empresa. Recusei. Tinha demasiado medo, caso ele não me conhecesse, que passasse a saber quem eu era e onde morava. Fui cobarde e não fiz nada.

10. 36 anos. Um mês atrás. Fui ao supermercado onde vou habitualmente. Reparei num senhor que pegava na fruta e pousava outra vez. Olhou-me nos olhos e não mais parou de olhar para mim. Começou a irritar-me. Andei aos esses no supermercado só para ter a certeza que me seguia mesmo. Em qualquer lado que estivesse, tinha sempre a cara dele a olhar para mim. Nesse dia estava mal disposta e irritada com o mundo, e só me apetecia berrar-lhe e acertar-lhe com a minha bolsa e depositar nele a minha raiva, mas ao mesmo tempo, pensava “credo, que vergonha, não vais fazer um escândalo porque está um gajo a olhar para ti”. O homem seguiu-me durante 20 minutos, num supermercado pequeno. Comecei por ter medo de sair, mas lá fui para o caixa. Nesse instante o homem sai. Enchi-me de coragem e contei à rapariga do caixa. Ela disse-me que não tinha reparado, mas para ir ver se ele estava do lado de fora do supermercado antes de sair. Fui ver e ele estava. Fui lhe dizer. E ela disse-me “deve ser um tolinho, espere um bocadinho aqui dentro que aqui nada lhe acontece”. Paralisei. Ali estava eu, aos 36 anos, no supermercado no centro da cidade onde nasci e cresci com medo de sair pela porta fora e vergonha de chamar a polícia, porque o homem não me tinha feito nada. Comecei a sentir-me cobarde e ridícula e liguei a uma amiga e perguntei-lhe se podia ficar ao telefone comigo até eu chegar a casa. Ela insistiu que chamasse a polícia, mas eu tinha vergonha e não confio na polícia. Vi o homem a ir-se embora e sai do supermercado.

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Pode-lhe parecer estranho, mas isto que me aconteceu é pouco com que o vi acontecer à minha volta ao ponto de achar que era uma privilegiada, porque nunca me aconteceu nada, fisicamente, como aconteceu a algumas das minhas amigas. Mais do que uma e o universo das minhas amigas é pequeno.

Cresci e tornei-me numa adulta cobarde e medrosa, que nunca vai sozinha a lado nenhum, porque acha sempre que se acontecer alguma coisa vai ficar paralisada e não se vai saber defender. É aquilo que mais tenho medo. Um dia sofrer um ataque e paralisar, não me tentar defender, não conseguir dizer nada. No caso de ir a tribunal, ter de ouvir dizer que se eu não me mexia e não falava, é porque estava a gostar ou a consentir.

Sou uma mulher adulta que tem medo de fazer o que quer que seja sozinha e que estou sempre a pedir constantemente às pessoas para virem comigo fazer alguma coisa. Desconheço a sensação de não ter medo constantemente, desconheço e sentimento de ausência de medo, porque estou sempre cheia de medo. Só em raras alturas consigo-me obrigar a sair de casa para caminhar sozinha, mas mesmo quando acabo por conseguir, volto logo. Não consigo fazer quase nada sozinha, estou sempre com medo. Sinto-me que me tornei numa pessoa cobarde e isso é o que mais me entristece.

Cresci com uma relação estranha com o meu corpo. Quando era miúda era muito bonita e tinha um corpo atlético e jeitoso. Era uma adolescente vaidosa, como todas. Ia para a escola maquilhada e gastava pequenas fortunas em acessórios extravagantes. O assédio era constante – coisas pequenas que nem conto, como bocas, apalpões, gajos que se apresentam e que ao cumprimentar, quase me tocam no rabo e dão beijos molhados ali no canto do lábio – coisas constantes à vida de qualquer pessoa. Aos poucos essa pessoa desapareceu. Engordei, raramente me maquilho, apesar de continuar a adorar, não uso saias nem vestidos normalmente (vestidos sempre foram a minha peça de roupa favorita), minissaia, nem pensar. Tenho um peito que acho muito bonito, nem pequeno nem grande demais. Só uso sutiãs básicos ou desportivos e não uso decotes também, apesar de os adorar e de me ficarem muito bem.

Perdi completamente o gosto ou a vontade de me arranjar com o tempo. Hoje vivo à base de calças largas ou jeans e camisolas largas e uso o cabelo sempre preso. Já não compro acessórios extravagantes e já não sou vaidosa. E gostava tanto de voltar a ter gosto em cuidar de mim.

Com o tempo engordei e agora, estou perigosamente obesa. Disfarço um bocado porque sou alta e nota-se que tenho peso a mais mas não pareço obesa. Mas estou e com um IMC demasiado alto, quase que me tornava uma doente prioritária para a vacina da covid. Eu sei disto, mas não tenho motivação nenhuma para emagrecer. Não vejo razão, embora a minha saúde me preocupe, claro. Dizem me sempre que se emagrecesse uns quilinhos ia ficar tão mais gira, mas só de ouvir essas palavras me dá vontade de comer mais.

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Olá Maria José,

Em anexo, envio-lhe os meus testemunhos.

Peço desculpa pelo tamanho do documento, mas quando vi o seu pedido, pensei em fazer um relato mais ou menos exaustivo com tudo o que me aconteceu e que consequências vejo em mim por causa disso.

Não é um exercício fácil e chorei muito ao fazê-lo. Admitirmos a nós próprias que nos aconteceram coisas más, que não soubemos evitar ou defender-nos ou até procurar ajuda. Ainda hoje, ao escrever, sinto o medo, a culpa e a vergonha. Estão aqui coisas que nunca contei a ninguém e que escrevi numa tentativa de aceitar e reconhecer o que aconteceu, ao contrário do que sempre fiz, que é basicamente tentar nunca mais me lembrar destas coisas.

Aproveitando este acto terapêutico de escrever, deixei ali no meio, pela ordem cronológica o relato da minha violação. Peço desculpa por isso, mas aproveitei que estava a mexer em coisas más e saiu tudo.

Pode usar as histórias à vontade, salvaguardando a minha identidade. Gostaria muito de ter coragem para assumir tudo isto, mas não tenho.

Obrigada pela oportunidade de poder partilhar o meu testemunho.

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