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Inês Forjaz,


"Belo rabo!" - ouvi há pouco, enquanto passeava o meu belo rabo numa rua de Lisboa. A boca foi atirada dum carro em andamento, o que me impediu de devolver a javardice com outra javardice sobre o tamanho da pila do javardo - táctica de guerrilha que a experiência já me mostrou que funciona muito bem. Isto fez-me recuar ao tempo da pré-adolescência, altura em que comecei a andar com camisolas ou camisas atadas à cintura, fizesse chuva ou fizesse Sol, numa vã tentativa de esconder o belo rabo. De nada adiantaram as conversas com uma prima mais velha, que num Verão quis convencer-me que o belo rabo era de família, que devia ser motivo de orgulho e não era para andar escondido. A mania só passou quando senti que já sabia defender-me dos tarados por rabos.

Tenho lido aqui os testemunhos das mulheres que decidiram partilhar as suas histórias de assédio continuado. Impressiona-me muito que todas, sem excepção, tenhamos começado a aturar isto ainda meninas. Todas nos lembramos do vestidinho que usávamos, da confusão por não percebermos o que era, do instinto que nos disse que não era coisa boa, do nojo, do medo. Impressiona-me que todas tenhamos sido apalpadas na escola. Impressiona-me que todas nos tenhamos sentido desconfortáveis na presença de homens mais velhos, muitas vezes insuspeitos e "de confiança". Impressiona-me que as minhas filhas, que herdaram o belo rabo de família, continuem a ter de defender-se dos javardos que conseguem não tocar numa obra de arte de que gostem, mas que são incapazes de se controlar perante a visão dum belo rabo.

Não tenho muito a acrescentar às histórias que já aqui foram contadas, por serem as nossas experiências tão semelhantes. Talvez uma, porque me deixou mesmo em baixo e sem vontade de disparar piadas básicas sobre pilas pequenas. Um javardão, na rua, tendo eu a minha filha mais velha ao lado: "serão mãe e filha? o que eu não dava para ter esses dois belos rabos ao mesmo tempo na minha cama"...

EDIT: acrescento fotografia, de vestidinho. O tipo de vestidinho infantil que vestia da primeira vez que fui incomodada por um tarado. E assim se soma mais uma imagem às outras imagens com sorrisos inocentes que já aqui vimos. E todas sabemos o que é que acontece a estes sorrisos inocentes quando somos atacadas pela primeira vez, não é?

 



... todas sabemos o que acontece a estes sorrisos inocentes quando somos atacadas pela primeira vez, não é? 

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