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Isabel Rodrigues, 47 anos


Dela guardo os estilhaços que me provocou na alma.


Quando tinha 12 anos fui assediada por um vizinho.

Um homem com idade para ser meu avô dirigiu-me palavras obscenas, propostas porcas.

Eu era uma menina, ainda brincava com bonecas, ainda nem era menstruada, nem percebi metade do alcance de tais palavras.

Mas tive medo, senti, em todos os meus poros, que estava perante uma situação de perigo.

Sem que me tivesse apercebido, a mulher desse homem também ouviu o seu assédio e confrontou-me dias depois, acusou-me de lhe provocar o marido, dirigiu -me palavras que uma mulher não deve ter para com uma menina. Pode parecer estranho, mas recordo melhor as suas palavras que as palavras do velho pedófilo.

Dele tive medo, mas ela fez-me sentir culpada, suja.

Uma mulher com idade para ser minha avó preferiu atacar-me, a mim, uma menina que nem era ainda uma mulher, que enfrentar a realidade de estar casada com um pedófilo, um predador.


Dele guardo o medo, mas dela guardo os estilhaços que me provocou na alma.



Eu ainda brincava com bonecas. 
Para ela eu é que lhe provoquei o marido.

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